Carménère: de Bordeaux para o Chile
Carménère é para o Chile assim como a Malbec é para a Argentina. É uma uva que nasceu na França, mas nunca encontrou seu lugar por lá, encontrando fama e fortuna no clima de um país sul-americano.
Carménère agora é considerada a uva nacional do Chile, conhecida como um ótimo vinho em todo o mundo para pratos de carne e churrascos, mas nem sempre foi tão conhecida pelos bebedores de vinho do mundo.

Carménère nasceu, como a maioria das uvas proeminentes do mundo, na região vinícola francesa de Bordeaux. Parente distante de Merlot, Carménère foi usado como uma uva de corte, para a famoso corte de Bordeaux da região, bem como para criar seu próprio vinho varietal único. Como seu primo Malbec, a uva era mimada no clima francês e muitas vezes passava por um período difícil. De fato, haveria muitas safras onde quase nenhum Carménère foi colhido.
De acordo com Daurel*, é uma planta bastante vigorosa e que dá excepcionais resultados, porém foi abandonada por ser altamente suscetível a doenças, especialmente a “coulure” – doença que impede o desenvolvimento das uvas pós floração. Seu nome poderia estar relacionado com a palavra “carmim”- substância corante, vermelho vivo. Mesmo com seu baixo rendimento, mas com alta concentração de cor merece ser, junto com a Petit Verdot, objeto de um revival.
No entanto, por sorte, pouco antes da filoxera atingir a Europa, algumas estacas de Carménère foram importadas para o Chile, cuja região vinícola estava apenas começando. As videiras foram plantadas nos vales de Santiago e quase imediatamente começaram a florescer no novo clima, graças principalmente às chuvas escassas e aos dias quentes que a região recebeu, um contraste com o lar francês da uva.
No início dos anos 1990, no Chile, a Carménère foi redescoberta nos vinhedos da vinícola Carmen, no Valle del Alto Maipo. Estava plantada junto com outras variedades, como a Merlot. Desde então o país passou a ser sua nova base, a princípio entrando em pequenas proporções nos cortes e ao final da década já aparecia como principal uva em alguns vinhos. Carménère pode revelar uma infinidade de aromas tão diversos como pimenta negra, toques animais, tabaco, cogumelos e outros. Deu o ar da graça até em Bordeaux, com o Ch. Clerc Milon admitindo a presença no seu assemblage no começo dos anos 2000. Na Lombardia, na Itália, as talentosas mãos de Maurizio Zanella – leia-se Cà del Bosco – produziram uma versão muito robusta, lá chamada de Carmerero – vale quanto custa.
A Carménère é até recomenda para quem bebe cerveja e adora a IPA. Os sabores e retro gosto da Carménère se assemelham à complexidade de um IPA, tornando-o o vinho ideal para alguém mais leal à cerveja, mas que procura se ramificar no vinho.
Regiões de produção Hoje pode-se dizer que a Carménère é uma uva chilena, e lá encontra sua plena expressão, mas aparece também na Califórnia, na Itália e na Argentina. Os vinhos são via-de-regra varietais, mas podem aparecer combinados com Cabernet Sauvignon, ou mesmo Shiraz. Alguns Tops chilenos usam Carménère em seu corte.
Características dos Vinhos O vinho Carménère é saboroso e encorpado, um pouco mais tânico que a Cabernet Sauvignon e menos ácido que a Cabernet Franc, com um nítido e delicado amargor secundário. Tem coloração rubi violácea acentuada. Suas boas características só aparecem depois de alguns anos; sendo assim, vinhos de menos de 3 anos são completamente ásperos, com elevada acidez e taninos agressivos (adstringente).
Harmonização Carnes vermelhas, feijoada (isso mesmo) e assados. É uma boa pedida para o "fondue" bourguignone (carne).
*Daurel, J. – Les Raisins de cuve de la Gironde et du Sud-ouest de la France (Bordeaux, 1892)